31.10.05

À atenção do Sr. Professor João Lobo Antunes

O autismo se caracteriza por:

1) Dificuldade na interação social:
a) Dificuldade acentuada no uso de comportamentos não-verbais (contato visual, expressão facial, gestos);
b) Dificuldade em fazer amigos;
c) Apresenta dificuldade em compartilhar suas emoções;
d) Dificuldade em demonstrar reciprocidade social ou emocional.

2) Prejuízos na comunicação:
a) Atraso ou falta de linguagem verbal;
b) Para aqueles onde a fala é presente, verifica-se uma grande dificuldade em iniciar ou manter uma conversa;
c) Uso estereotipado e repetitivo da linguagem;
d) Falta ou dificuldade em bricadeiras de "faz de conta".

3) Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades:
a) preocupação insistente com um ou mais padrões estereotipados;
b) assumir de forma inflexível rotinas ou rituais (ter "manias" ou focalizar-se em um único assunto de interesse);
c) maneirismos motores estereotipados (agitar ou torcer as mãos, por exemplo);
d) preocupação insistente com partes de objetos, em vez do todo (fixação na roda de um carrinho, por exemplo).

(Retirado de "http://pt.wikipedia.org/wiki/Autismo")

30.10.05

A busca do sentido

Faz sentido um empregado entrevistar o seu patrão num canal televisivo?

Faz, é claro, se o país for Portugal, se o canal for a RTP2, se o empregado for José Manuel Fernandes, se o patrão for Belmiro de Azevedo, e se um dos propósitos da entrevista for dar-nos a conhecer que, na opinião do patrão, Cavaco Silva é o melhor candidato à Presidência da República.

Com um pouco de esforço e muito boa vontade, consegue-se compreender que tudo isto faz sentido.

Conseguem imaginar?

Se bem entendo, o que Mário Mesquita diz no Expresso é que, se Cavaco Silva for o próximo Presidente, o lugar será ocupado por alguém com o mesmo perfil do actual Primeiro-Ministro.

Assim, teremos: um autista na Presidência, outro no Governo; um teimoso na Presidência, outro no Governo; um casmurro na Presidência, outro no Governo; um cabeçudo na Presidência, outro no Governo; um marreta na Presidência, outro no Governo; um caturra na Presidência, outro no Governo; um ranzinga na Presidência, outro no Governo; um opinativo na Presidência, outro no Governo; um mestre-escola na Presidência, outro no Governo; um obstinado na Presidência, outro no Governo; um rebarbativo na Presidência, outro no Governo; um empertigado na Presidência, outro no Governo; um acintoso na Presidência, outro no Governo; um finca-pé na Presidência, outro no Governo; um embirrativo na Presidência na Presidência, outro no Governo; um maníaco na Presidência, outro no Governo; um embezerrado na Presidência, outro no Governo.

Já estão cansados? Então, façam como eu: não votem Cavaco Silva.

29.10.05

20% dos portugueses com estudos superiores trabalham no estrangeiro

Mas, tirando os cursos da treta, essa percentagem aproxima-se mais dos 100%.

E os que ficam cá, se não fizerem uma pós-graduação nas juventudes partidárias, só arranjam emprego a servir ao balcão.

28.10.05

É o que dizem os jornais...

Ministro dos Transportes decide que o TGV Lisboa-Porto vai parar em todos os apeadeiros.

Jogada ensaiada

O que eu mais apreciei na cerimónia de apresentação do Manifesto eleitoral do Cavaco foi a organização da claque, claramente instruída para aplaudir furiosamente cada vez que o candidato balbuciava expressões como "sociedade mais justa", "coesão social" ou "combate ao desemprego".

Sugiro que a candidatura do Soares prepare um número semelhante na sua própria sessão pública mobilizando um grupo de espontâneos para baterem palmas sempre que ele pronuncie frases mágicas do género "reforço da autoridade", "contenção da despesa" ou "esforço de competitividade".

PS - Desconfio que a notícia do Público intitulada "Cavaco Silva assume preocupações do eleitorado de centro-esquerda" (porque não do de extrema-esquerda?), e cujo lead também destaca as expressões atrás citadas, foi redigida por um elemento da mesma claque.

27.10.05

Uma desgraça nunca vem só

Oxalá a gripe da aves não chegue primeiro a Espanha. Era uma humilhação para nós.

24.10.05

Que idade tem o Cavaco?



Toda a gente sabe que o Soares tem 81 anos.

E que idade tem afinal o Cavaco?

Ora bem, eu tenho a impressão que, a avaliar pelo penteado, pela pose, pelas expressões que usava, pela curiosidade que revelava pelas coisas do mundo, pela espontaneidade, 81 anos tinha ele quando se formou, de modo que... deixa-me cá fazer as contas...

19.10.05

"Não, falei com o teu..."

13.10.05

Um tipo porreiro



Quando Jorge Coelho tomou conta do aparelho, o PS era um partido com grande implantação urbana.

Uma década depois, as distritais de Lisboa e Porto encontram-se em adiantado estado de decomposição, revelando-se incapazes de arranjar candidatos autárquicos que mobilizem o eleitorado dessas cidades. O PS refluiu para as pequenas urbes e, principalmente, para o meio rural.

(Quando Coelho diz que o PS ganhou em "20 grandes cidades", só podemos responder-lhe que nem com muito boa vontade é possível contar em Portugal 20 "grandes cidades".)

A razão deste fenómeno está à vista de todos. Coelho é ele próprio, por estilo e vocação, um rural no sentido cultural do termo.

O que lhe sobra em esperteza, falece-lhe em cultura política. Coelho resolve os mais intrincados problemas com um dito de espírito, desfaz um conflito com uma piada, desarma um adversário com um abraço.

Os camaradas de partido dividem-se entre "tipos porreiros" e "chatos". Um tipo porreiro é alguém com quem se pode passar um bom bocado e trincar uns petiscos. Um chato é alguém que quer discutir política.

A sua vivacidade de espírito permite-lhe captar num ápice uma situação e engendrar um esquema para dar-lhe um jeito. A sua falta de preparação sobre os grandes temas políticos, económicos e culturais inibe-o de propor ideias sólidas e consistentes.

Com isto, afastam-se do PS as novas camadas sociais urbanas fartas do ancestral país saloio e auto-satisfeito que se compraz na sua ignorância. Resta-lhe o hinterland passadista e assustado que a custo resiste aos novos tempos.

O PS de Jorge Coelho está todo dentro do telemóvel que o mantém em permanente ligação não só com as estruturas distritais e concelhias, mas também com os amigalhaços dos outros partidos e as pequenas e médias forças vivas das pequenas e médias localidades.

O resto, resolve-se em roteiros gastronómicos por esse país fora.

Este método é fantástico para manter o PS activo no país inactivo. Mas determina, simultaneamente, a sua crescente ausência do país que mexe.

Chega-se às eleições autárquicas, e o PS não consegue arranjar em Lisboa e Porto melhor do que os filósofos na reserva Carrilho e Assis. Independentemente de, ao contrário do primeiro, o segundo ser uma pessoa estimável, em ambos os casos se revela o estado de profundo isolamento a que o partido se deixou remeter nas duas grandes áreas metropolitanas do país. Só assim se explica que os socialistas não tenham conseguido mobilizar melhores candidatos.

8.10.05

Um clube de elite

Quando perdeu a maioria na Assembleia Geral do clube, disse o Marquês de Alvalade para os seus amigos: "Não faz mal. O meu avôzinho paga-me um novo!"

Este é o código genético do Sporting Clube de Portugal, um clube onde a aristocracia que o controla tem pavor dos adeptos.

O Sporting é, assim, um dos poucos clubes do mundo cujos dirigentes desprezam o povo que o apoia e, por arrasto, os próprios jogadores oriundos desse mesmo povo.

Pelo contrário, tudo é permitido aos poucos futebolistas que se diz serem de boas famílias. É o caso do rufião Sá Pinto, promovido a símbolo do clube desde que agrediu o seleccionador nacional.

Quem julga que a luta de classes é uma coisa do passado deve, assim, pôr os seus olhos no Sporting.

A transformação dos clubes em sociedades desportivas criou por toda a parte um conflito entre objectivos desportivos e objectivos financeiros. Não assim, no Sporting, onde os objectivos financeiros são considerados os únicos legítimos, e os desportivos encarados como uma manifestação de reles populismo.

No Sporting há também, como já disse, um fosso entre os dirigentes e os jogadores, o que é decisivo para explicar os insucessos desportivos. Os dirigentes nunca praticaram nenhum desporto para além do golfe, do ténis e do bridge. Não imaginam o que passa pela cabeça de um futebolista. Não concebem o que se passa num balneário. Não entendem a complexidade dos conflitos que se desenrolam dentro de uma equipa.

Como bons patrões da escola portuguesa, mantêm uma relação distante com os assalariados. Não convivem com eles, não conhecem as mulheres, não sabem os nomes dos filhos. Desconhecem por que estão no clube. Desconhecem para onde sonham ir. Ignoram as suas aspirações. Ignoram os seus medos.

Quando tomam decisões, fazem-no em total desconhecimento das suas consequências. Sem o notarem, alimentam grupinhos, cabalas e conspirações.

Ao fim de 18 anos de jejum, veio um treinador que deu um título ao clube. Na época seguinte, foi despedido. Dois anos depois, apareceu outro que repetiu a proeza, a que se seguiu novo despedimento.

Sistematicamente, a Direcção mostra aos jogadores que vale a pena conspirarem contra os treinadores ou isolarem certos colegas, porque, no final, o motim triunfa.

Nestas circunstâncias, vencer será sempre uma acidente inesperado, algo tão raro e improvável como ganhar a taluda. Perder é fixe.

Não culpem o Peseiro, culpem-se a vós próprios. Eu compreendo que gente de sangue azul funde um clube de futebol. Mas não compreendo que alguém o apoie.

Enigma



Todos os que tiveram a desdita de trabalhar com ele asseveram que se trata de um tipo incompetente, grosseiro, prepotente, falso, desleal e intruiguista. Porque é então sucessivamente colocado em cargos políticos da maior importância?

Ainda não se extinguiram os ecos da polémica em torno da nomeação de Oliveira Martins para o Tribunal de Contas, alguém a quem toda a gente reconhece a necessária competência. Todavia, ninguém parece incomodar-se com a designação da coisa mais parecida com uma besta que o país alberga para a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.

Qual será a razão? Não sei. Mas é que não sei mesmo.

2.10.05

Democracia, direita e cultura

Parece que há para aí agora uns betinhos que lêem livros, argumento suficiente para refutar o preconceito segundo o qual a direita seria alérgica à cultura.

No DN de ontem, relatando um debate sobre a relação entre a direita e a cultura em que participou, Pedro Lomba tem a bondade de nos iluminar:

"Foi em grande parte por causa do comunismo e da durabilidade do comunismo no século XX que a pretensa hostilidade da direita à cultura começou a ser usada como argumento político contra ela. No século XIX ninguém se lembraria de dizer que os conservadores ou os monárquicos não liam livros, até porque as elites liam livros."

(Note-se que, para este jovem, tanto "elite" como "monárquico" eram, no século XIX, sinónimos de direita. Não tenho tempo para lhe explicar porque isso é uma tolice.)

Deixemos então de lado os detalhes, e perguntemos directamente o que mudou desde o século XIX na posição da direita em relação à cultura?

O que mudou, no essencial, é que agora há democracia - no sentido elementar de todos os habitantes adultos de um país terem direito de voto - e no século XIX não havia.

Isso criou um problema. Se toda a gente vota, e a maioria das pessoas são pobres, como evitar a eleição de um governo que legisle contra os ricos e os poderosos?

A solução historicamente encontrada, e ainda hoje não superada, consistiu em arranjar uma maneira de pôr uma parte dos pobres a votar com os ricos e poderosos.

E como se faz isso? Vai-se arrebanhar aquela parte mais ignorante da população e mete-se-lhe medo.

É a santa aliança, nunca atraiçoada, entre o privilégio e a ignorância. Continua a funcionar em toda a parte. Nos EUA como em Portugal.

Daí resultou um difícil relacionamento entre a direita e a cultura. Embora provavelmente haja tantos criadores à direita como à esquerda, a direita receia e frequentemente hostiliza a cultura, pelo simples facto de que ela tende a enfraquecer a submissão à autoridade, a estimular o pensamento independente e a favorecer a rejeição das superstições de todo o género de cuja sobrevivência os poderosos dependem.

Um homem não é de ferro



Se a Kate Moss, a senhora do cartaz acima, se entrega à cocaína, quem sou eu para resistir à droga?