Quando perdeu a maioria na Assembleia Geral do clube, disse o Marquês de Alvalade para os seus amigos: "Não faz mal. O meu avôzinho paga-me um novo!"
Este é o código genético do Sporting Clube de Portugal, um clube onde a aristocracia que o controla tem pavor dos adeptos.
O Sporting é, assim, um dos poucos clubes do mundo cujos dirigentes desprezam o povo que o apoia e, por arrasto, os próprios jogadores oriundos desse mesmo povo.
Pelo contrário, tudo é permitido aos poucos futebolistas que se diz serem de boas famílias. É o caso do rufião Sá Pinto, promovido a símbolo do clube desde que agrediu o seleccionador nacional.
Quem julga que a luta de classes é uma coisa do passado deve, assim, pôr os seus olhos no Sporting.
A transformação dos clubes em sociedades desportivas criou por toda a parte um conflito entre objectivos desportivos e objectivos financeiros. Não assim, no Sporting, onde os objectivos financeiros são considerados os únicos legítimos, e os desportivos encarados como uma manifestação de reles populismo.
No Sporting há também, como já disse, um fosso entre os dirigentes e os jogadores, o que é decisivo para explicar os insucessos desportivos. Os dirigentes nunca praticaram nenhum desporto para além do golfe, do ténis e do bridge. Não imaginam o que passa pela cabeça de um futebolista. Não concebem o que se passa num balneário. Não entendem a complexidade dos conflitos que se desenrolam dentro de uma equipa.
Como bons patrões da escola portuguesa, mantêm uma relação distante com os assalariados. Não convivem com eles, não conhecem as mulheres, não sabem os nomes dos filhos. Desconhecem por que estão no clube. Desconhecem para onde sonham ir. Ignoram as suas aspirações. Ignoram os seus medos.
Quando tomam decisões, fazem-no em total desconhecimento das suas consequências. Sem o notarem, alimentam grupinhos, cabalas e conspirações.
Ao fim de 18 anos de jejum, veio um treinador que deu um título ao clube. Na época seguinte, foi despedido. Dois anos depois, apareceu outro que repetiu a proeza, a que se seguiu novo despedimento.
Sistematicamente, a Direcção mostra aos jogadores que vale a pena conspirarem contra os treinadores ou isolarem certos colegas, porque, no final, o motim triunfa.
Nestas circunstâncias, vencer será sempre uma acidente inesperado, algo tão raro e improvável como ganhar a taluda. Perder é fixe.
Não culpem o Peseiro, culpem-se a vós próprios. Eu compreendo que gente de sangue azul funde um clube de futebol. Mas não compreendo que alguém o apoie.