7.9.05

Gestão para Tótós

Ora saboreiem esta deliciosa sandes de palha que encontrei na Exame deste mês:

"Desde que iniciei a minha vida profissional, na McKinsey & Co, que tenho uma preocupação constante pela qualidade do trabalho e pela criação de valor (para clientes, accionistas e stakeholders).

"Actualmente defendo que a gestão deve assentar em três princípios: boas ideias, superioridade de execução e timing certo".

Há para aí muitos papagaios a debitar vacuidades como esta. Mas é preciso dar o seu a seu dono: quem, do alto das suas 34 risonhas primaveras, nos brinda com estas pérolas de sabedoria é Miguel Setas, feito administrador da CP por aquele Mexia que, até ver, já não mexe.

Eis uma oportunidade para vos falar um bocadinho do sistema McKinsey. A McKinsey concede absoluta prioridade ao recrutamento de jovenzinhos munidos de um MBA tirado em Harvard. Os felizes eleitos tornam-se então consultores de empresas, condição em que terão oportunidade de perorar em Powerpoint sobre assuntos que não conhecem, sugando o know-how das empresas que os contratam e impondo as suas teorias pré-fabricadas a pessoas com real experiência e capacidade de resolução dos problemas.

Como alguém disse, "management consultants steal your watch and then tell you the time".

Porém, quase ninguém é consultor por muito tempo. Após um breve tirocínio na McKinsey, os jovens ambiciosos que aí começam as suas carreiras já estão preparados para ir dar cabo de empresas sem necessidade de intermediários. Como seria de esperar, esta linhagem de gestores de sangue azul é muito procurada no meio empresarial.

Assim, vamos encontrar ex-McKinseys a dirigir um elevadíssimo número de grandes empresas que, como é natural, regularmente chamam a McKinsey para lhe encomendar trabalhos de consultoria. Depois, quando estes gestores são convidados a nomear a melhor escola americana de gestão, é evidente que votam na Harvard Business School. Como diriam os franceses - mas o que é que eles sabem, os franceses? - la boucle est bouclée.

Tal como uma mulher que casa rica tem que comprar um casaco de peles, uma empresa à qual as coisas correm bem tem que contratar a McKinsey, um símbolo de status como qualquer outro, só que especialmente concebido para gestores. Valha a verdade, a McKinsey não lhes serve só para exibir - "vejam como a minha empresa tem dinheiro para esbanjar". Ela também os abastece com umas tantas frases feitas que lhes permitem fazer figura de inteligentes perante os mais tolos do que eles.

Releiam, neste contexto, a citação do Miguel Setas com que iniciei este post. Como podem ver, ela é absolutamente destituída de conteúdo, limitando-se a sinalizar a pertença do seu autor a uma élite de poderosos que comandam os destinos do mundo. O seu valor é nulo para a gestão de qualquer empresa: não contêm qualquer ideia válida que possa ajudar a orientar uma empresa pequena, média ou grande.

Porém, como há jornalistas que fazem constar que, depois da contratação da McKinsey, uma empresa fica munida de uma estratégia poderosa, como há gestores de fundos de investimento que acreditam nisso, e como há néscios que compram unidades desses fundos, até pode acontecer que o dinheiro gasto com os consultores seja parcialmente compensado com um aumento das cotações das suas acções na bolsa.

Perceberam? Eu também não.

11 Comments:

Anonymous Anónimo said...

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11:24 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

"Dinheiro para esbanjar" é o que não falta, ao Setas. Só dá esbanjamento em comunicação e imagem, na CP. Et la boucle est bouclée, encore une fois: havendo dinheiro, há espaço nos media para o Setas armar em pseudo-guru. Qualquer manual de critical thinking,para principiantes, diz que isso é pseudo-profundidade: profundas tretas...

1:07 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Apanhei isto através do SINDEFER.
Parece que a CP se chama agora Comboios de Portugal, mas devia chamar-se Comboios de Pau.

10:50 da manhã  
Blogger Teófilo M. said...

Tou a gostar deste 'blog';

melhor...

estou a gostar mesmo muito deste 'blog'

3:20 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Este post põe uma questão!
Quem nomeia os Gestores de Empresas Públicas é a tutela ou as Consultoras que ganham rios de dinheiro com as ditas?

Pelo o que aqui se lê, não restam muitas dúvidas...
Continue e se possível na Refer.

2:20 da tarde  
Blogger mentes inquietas said...

Gostei deste post.... ;-)


http://mentes-in-quietas.blogspot.com/

12:57 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

tás ressabiado, ó gajo, roeram-te a corda
eh,eh,eh

11:38 da tarde  
Blogger MFerrer said...

E eu que andava a pensar que o inside trading não existia cá em Portugal!
Que aqui os gestores tinham era azar e a economia estava como se vê.
Ou tinham sorte e eles próprios ficavam ricos, como se vê, de um dia para o outro.
Excelente texto!
Podem passar pelo
http://homem-ao-mar.blogspot.com que também tem coisas para contar!

8:17 da tarde  
Blogger José Pires F. said...

Excelente post.

10:32 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Cara Máscara de ferro,

Diz-me uma coisa... não te aceitaram na McKinsey? Ou é só inveja? A Máscara é para esconder a vergonha ou a falta de coragem? O mundo sempre foi feito de fortes e fracos, dos que mandam e dos que são mandados... também se chama a lei da natureza no mundo animal. Basicamente, comes ou és comido! Já agora qual é o teu grupo?

6:04 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

GOSTAVA DE SABER PORQUE MENINAS NÃO ENTRAM ISSO É ALGUM PRECONCEITO ? OLHA QUE EU SEI PENSAR .

8:08 da tarde  

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