18.9.05

O menino dança?



"Homem pequenino, ou velhaco ou bailarino" - dizia a minha avô, quando o meu avô não estava por perto.

Qual dos dois - velhaco ou bailarino - será o António Vitorino?

Num mundo que favorece naturalmente os altos, chegar-se onde ele chegou apesar da estatura é, por si só, prova de capacidades invulgares. Falta saber quais.

António começou a sua carreira em Macau, desde logo caso para ficarmos de pé atrás. Regressado à Pátria, teve uma fulgurante ascensão política, incluindo uma breve passagem pelo primeiro governo de Guterres e culminando no lugar de Comissário Europeu.

Toda a gente gaba a competência com que desempenhou todos os cargos, mas ninguém é capaz de referir-me uma coisa que ele tenha feito.

Num partido que é hoje uma vasta assembleia de nulidades, cujas opiniões ninguém está interessado em conhecer, António tornou-se naquela trémula luzinha que ilumina a escuridão. Chama-se a isso uma referência.

Mas eis que, quando o PS começou a chamar pelo pequeno génio que tanto protagonismo adquirira à custa do partido, ele começou a fazer-se caro. Ao que parece, deitou fora a escada pela qual subiu ao topo.

António esteve disponível para se projectar em Macau, para ser o número dois de Guterres, para ascender a Comissário Europeu. Mas não para suceder a Ferro Rodrigues à frente do Partido Socialista, para integrar o governo de Sócrates, para apoiar a candidatura de Mário Soares à Presidência.

E porquê? Porque não lhe apetece, evidentemente. Cresceu na e pela política, mas agora falece-lhe a vocação.

Uma teoria psicológica em moda, divulgada por Malcolm Gladwell no seu livro Blink recomenda que confiemos nos nossos instintos para avaliar as pessoas, porque em regra eles estão correctos.

E que me dizem, então, os meus instintos?

Dizem-me que António é um homem extremamente simpático, sempre sorridente, com uma enorme facilidade para fazer amigos. Dizem-me também que tem um raciocínio rápido, oportuno e vivo. O seu discurso assemelha-se a um riacho: fresco, saltitante e ágil, mas não profundo, nem consistente, nem constante. António não tem ideias fortes que se nos fixem no espírito. Limita-se a dizer o que toda a gente diz nas ruas e nos cafés, só que de uma forma mais expressiva, o que o torna muito apreciado pelos jornalistas. Ele não se agarra a compromissos firmes. Vendo bem, o seu tom insinuante sugere um tipo escorregadio, com uma enorme necessidade de agradar. Não é claro o que ele quer, porque ele não parece querer nada excepto conquistar a nossa confiança e simpatia. Quando a tiver, logo nos fará saber ao que vem.

Entretanto, os jornais vão-nos dando a conhecer o seu permanente envolvimento em negócios, projectos de negócios e fantasias de negócios com os mais variados parceiros. Uma coisa é clara: na sua corrida para o topo, ele visa muito mais alto do que todos aqueles pobres políticos com quem acompanheirou nas duas últimas décadas.

O dicionário português tem uma palavra para definir este tipo de sujeito: António é um trampolineiro ou, se acharem a palavra demasiado rude, um esperto. Só ao PS poderia ter ocorrido tentar levar um homem assim para Belém.

Definitivamente, António é um dançarino.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não posso deixar de o felicitar por este post. Uma análise bem circunstanciada dos traços de personalidade de António Vitorino.

2:13 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Poderia ter-nos poupado tempo, que para escrever isto bastava ter dito que ele é um pulha.

7:15 da tarde  

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