13.10.05

Um tipo porreiro



Quando Jorge Coelho tomou conta do aparelho, o PS era um partido com grande implantação urbana.

Uma década depois, as distritais de Lisboa e Porto encontram-se em adiantado estado de decomposição, revelando-se incapazes de arranjar candidatos autárquicos que mobilizem o eleitorado dessas cidades. O PS refluiu para as pequenas urbes e, principalmente, para o meio rural.

(Quando Coelho diz que o PS ganhou em "20 grandes cidades", só podemos responder-lhe que nem com muito boa vontade é possível contar em Portugal 20 "grandes cidades".)

A razão deste fenómeno está à vista de todos. Coelho é ele próprio, por estilo e vocação, um rural no sentido cultural do termo.

O que lhe sobra em esperteza, falece-lhe em cultura política. Coelho resolve os mais intrincados problemas com um dito de espírito, desfaz um conflito com uma piada, desarma um adversário com um abraço.

Os camaradas de partido dividem-se entre "tipos porreiros" e "chatos". Um tipo porreiro é alguém com quem se pode passar um bom bocado e trincar uns petiscos. Um chato é alguém que quer discutir política.

A sua vivacidade de espírito permite-lhe captar num ápice uma situação e engendrar um esquema para dar-lhe um jeito. A sua falta de preparação sobre os grandes temas políticos, económicos e culturais inibe-o de propor ideias sólidas e consistentes.

Com isto, afastam-se do PS as novas camadas sociais urbanas fartas do ancestral país saloio e auto-satisfeito que se compraz na sua ignorância. Resta-lhe o hinterland passadista e assustado que a custo resiste aos novos tempos.

O PS de Jorge Coelho está todo dentro do telemóvel que o mantém em permanente ligação não só com as estruturas distritais e concelhias, mas também com os amigalhaços dos outros partidos e as pequenas e médias forças vivas das pequenas e médias localidades.

O resto, resolve-se em roteiros gastronómicos por esse país fora.

Este método é fantástico para manter o PS activo no país inactivo. Mas determina, simultaneamente, a sua crescente ausência do país que mexe.

Chega-se às eleições autárquicas, e o PS não consegue arranjar em Lisboa e Porto melhor do que os filósofos na reserva Carrilho e Assis. Independentemente de, ao contrário do primeiro, o segundo ser uma pessoa estimável, em ambos os casos se revela o estado de profundo isolamento a que o partido se deixou remeter nas duas grandes áreas metropolitanas do país. Só assim se explica que os socialistas não tenham conseguido mobilizar melhores candidatos.

6 Comments:

Blogger Teófilo M. said...

Na "mouche".

2:46 da tarde  
Blogger Bart Simpson said...

exacto.
o nacional-porreirismo de Coelho dá para resolver o imediato mas não prepara o futuro.
Serve para tudo. Arruma cadeiras e mandar tirar fotocópias. Prepara os cartazes e organiza brigadas.
Estava bem para o PCP quando quiser substituir Ruben de Carvalho na Festa do Avante...

3:32 da tarde  
Blogger António Conceição said...

Análise absolutamente certeira.
Aliás é significativo que, em dois dos últimos programas da "Quadratura do Círculo", Jorge Coelho defendeu a candidatura de Mário Soares precisamente com o argumento de que Soares é um tipo porreiro. "Ao lado dele ninguém está chateado" - disse. Como se fosse esta a característica essencial exigível a um Presidente da República!

5:44 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A insustentável leveza do texto só se aceita porque há que atingir este Coelho com todo o chumbo que for possível. Mas isso não nos impede de lamentar que o objectivo seja posto em causa pela confrangedora banalidade do que se escreve.

8:54 da tarde  
Blogger Pedro Aroso said...

Estou em total desacordo com o(a) "anonymous" que escreveu o post anterior.
Parabéns ao "Gajo", com letra maiúscula, autor deste excelente retrato de Jorge Coelho.

Pedro Aroso

3:18 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Nem sei se o tiro ao coelho não é mais uma pazada para o caixão do carrilho. Quanto à escolha dos candidatos o carrilho era infinitamente melhor do que o carmona. Mas parece que "as novas camadas sociais urbanas" não perceberam isso e optaram pelo "ancestral país saloio e auto-satisfeito".

11:04 da manhã  

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