22.9.05

Mr. Clean



Os jornalistas portugueses, habitualmente tão contundentes, nunca se lembraram de perguntar como é possível um vice-presidente de um grande banco internacional residente em Londres passar o tempo em Portugal a dar entrevistas e a participar em debates televisivos.

Quando se zangou com António Borges, o desbocado Santana Lopes revelou publicamente que ele viera ao seu gabinete oferecer-se para trabalhar na privatização das Águas de Portugal, deixando no ar a insinuação de que, afinal, Borges andaria a angariar negócios para o seu banco.

A ser verdade, isso explicaria muita coisa.

Para já, o que eu sei é que Mr.Clean, que mora na capital da Inglaterra, é Presidente da Assembleia Municipal de Alter do Chão, no meio do Alentejo. E isso não parece uma coisa politicamente muito séria, não é verdade?

18.9.05

O menino dança?



"Homem pequenino, ou velhaco ou bailarino" - dizia a minha avô, quando o meu avô não estava por perto.

Qual dos dois - velhaco ou bailarino - será o António Vitorino?

Num mundo que favorece naturalmente os altos, chegar-se onde ele chegou apesar da estatura é, por si só, prova de capacidades invulgares. Falta saber quais.

António começou a sua carreira em Macau, desde logo caso para ficarmos de pé atrás. Regressado à Pátria, teve uma fulgurante ascensão política, incluindo uma breve passagem pelo primeiro governo de Guterres e culminando no lugar de Comissário Europeu.

Toda a gente gaba a competência com que desempenhou todos os cargos, mas ninguém é capaz de referir-me uma coisa que ele tenha feito.

Num partido que é hoje uma vasta assembleia de nulidades, cujas opiniões ninguém está interessado em conhecer, António tornou-se naquela trémula luzinha que ilumina a escuridão. Chama-se a isso uma referência.

Mas eis que, quando o PS começou a chamar pelo pequeno génio que tanto protagonismo adquirira à custa do partido, ele começou a fazer-se caro. Ao que parece, deitou fora a escada pela qual subiu ao topo.

António esteve disponível para se projectar em Macau, para ser o número dois de Guterres, para ascender a Comissário Europeu. Mas não para suceder a Ferro Rodrigues à frente do Partido Socialista, para integrar o governo de Sócrates, para apoiar a candidatura de Mário Soares à Presidência.

E porquê? Porque não lhe apetece, evidentemente. Cresceu na e pela política, mas agora falece-lhe a vocação.

Uma teoria psicológica em moda, divulgada por Malcolm Gladwell no seu livro Blink recomenda que confiemos nos nossos instintos para avaliar as pessoas, porque em regra eles estão correctos.

E que me dizem, então, os meus instintos?

Dizem-me que António é um homem extremamente simpático, sempre sorridente, com uma enorme facilidade para fazer amigos. Dizem-me também que tem um raciocínio rápido, oportuno e vivo. O seu discurso assemelha-se a um riacho: fresco, saltitante e ágil, mas não profundo, nem consistente, nem constante. António não tem ideias fortes que se nos fixem no espírito. Limita-se a dizer o que toda a gente diz nas ruas e nos cafés, só que de uma forma mais expressiva, o que o torna muito apreciado pelos jornalistas. Ele não se agarra a compromissos firmes. Vendo bem, o seu tom insinuante sugere um tipo escorregadio, com uma enorme necessidade de agradar. Não é claro o que ele quer, porque ele não parece querer nada excepto conquistar a nossa confiança e simpatia. Quando a tiver, logo nos fará saber ao que vem.

Entretanto, os jornais vão-nos dando a conhecer o seu permanente envolvimento em negócios, projectos de negócios e fantasias de negócios com os mais variados parceiros. Uma coisa é clara: na sua corrida para o topo, ele visa muito mais alto do que todos aqueles pobres políticos com quem acompanheirou nas duas últimas décadas.

O dicionário português tem uma palavra para definir este tipo de sujeito: António é um trampolineiro ou, se acharem a palavra demasiado rude, um esperto. Só ao PS poderia ter ocorrido tentar levar um homem assim para Belém.

Definitivamente, António é um dançarino.

O senhor doutor

Fernando Ulrich, Presidente do BPI, falará hoje na 2 sobre a política fiscal, o controlo do défice e o sigilo bancário.

Com toda a sua recentemente adquirida sabedoria - que, suponho, não deixará de exibir -, é natural que já esteja em condições de ir acabar o curso de Economia que deixou a meio.

9.9.05

Dias Loureiro - um case study

As universidades de economia e gestão exortam os nossos meninos e meninas a serem empreendedores, planearem estrategicamente, estudarem as necessidades dos consumidores, lançarem produtos inovadores, conquistarem novos mercados, melhorarem continuamente a qualidade, ambicionarem a excelência, motivarem os trabalhadores e serem rigorosos nas contas.

Essas recomendações podem ser excelentes na América e noutras paragens exóticas, mas não é fácil entender como poderão resultar em Portugal.

Proponho que os estudantes sejam antes estimulados a estudar o caso "Dias Loureiro", para ver se conseguem entender como é que um jovem jurista pobrete da província chegado a Lisboa com uma mão à frente e outra atrás, pode, após uma passagem pela política ao mais alto nível, constituir uma fortuna considerável em resultado do seu envolvimento nos mais variados negócios, ao ponto de poder dar-se ao luxo de rapar o bigode.

Sugiro ainda que concentrem a análise em cinco pontos essenciais: a) constituição e gestão da carteira de negócios; b) estruturação da cadeia de valor; c) construção e reforço da vantagem competitiva; d) internacionalização da fileira; e e) relacionamento com os stakeholders.

Quando as escolas de gestão começarem a ensinar o que verdadeiramente interessa, aí sim, poderemos ambicionar ombrear com a Irlanda e a Finlândia utilizando apenas e só as capacidades e os recursos com que Deus teve a bondade de nos dotar.

A este, ninguém lhe vê os dentes



Já repararam que nunca ninguém viu os dentes do Paulo Teixeira Pinto, Presidente to Millennium BCP?

Será que se pode confiar num homem com esta cara de poucos amigos? Que mensagem pretendeu o banco transmitir-nos ao eleger um presidente tão mal encarado? Quererá enxotar-nos?

Se calhar sofre, o coitado. O que é que lhe correrá mal na vida? Ou o que é que ele estará a esconder? Disseram-me que o pobre tem os dentes podres, mas eu não acredito.

E, depois, aquele olhar estranho, transtornado, fugidio... Já repararam bem?

Tenho a impressão que vou fechar a conta, antes que eu depois me arrependa.

7.9.05

Gestão para Tótós

Ora saboreiem esta deliciosa sandes de palha que encontrei na Exame deste mês:

"Desde que iniciei a minha vida profissional, na McKinsey & Co, que tenho uma preocupação constante pela qualidade do trabalho e pela criação de valor (para clientes, accionistas e stakeholders).

"Actualmente defendo que a gestão deve assentar em três princípios: boas ideias, superioridade de execução e timing certo".

Há para aí muitos papagaios a debitar vacuidades como esta. Mas é preciso dar o seu a seu dono: quem, do alto das suas 34 risonhas primaveras, nos brinda com estas pérolas de sabedoria é Miguel Setas, feito administrador da CP por aquele Mexia que, até ver, já não mexe.

Eis uma oportunidade para vos falar um bocadinho do sistema McKinsey. A McKinsey concede absoluta prioridade ao recrutamento de jovenzinhos munidos de um MBA tirado em Harvard. Os felizes eleitos tornam-se então consultores de empresas, condição em que terão oportunidade de perorar em Powerpoint sobre assuntos que não conhecem, sugando o know-how das empresas que os contratam e impondo as suas teorias pré-fabricadas a pessoas com real experiência e capacidade de resolução dos problemas.

Como alguém disse, "management consultants steal your watch and then tell you the time".

Porém, quase ninguém é consultor por muito tempo. Após um breve tirocínio na McKinsey, os jovens ambiciosos que aí começam as suas carreiras já estão preparados para ir dar cabo de empresas sem necessidade de intermediários. Como seria de esperar, esta linhagem de gestores de sangue azul é muito procurada no meio empresarial.

Assim, vamos encontrar ex-McKinseys a dirigir um elevadíssimo número de grandes empresas que, como é natural, regularmente chamam a McKinsey para lhe encomendar trabalhos de consultoria. Depois, quando estes gestores são convidados a nomear a melhor escola americana de gestão, é evidente que votam na Harvard Business School. Como diriam os franceses - mas o que é que eles sabem, os franceses? - la boucle est bouclée.

Tal como uma mulher que casa rica tem que comprar um casaco de peles, uma empresa à qual as coisas correm bem tem que contratar a McKinsey, um símbolo de status como qualquer outro, só que especialmente concebido para gestores. Valha a verdade, a McKinsey não lhes serve só para exibir - "vejam como a minha empresa tem dinheiro para esbanjar". Ela também os abastece com umas tantas frases feitas que lhes permitem fazer figura de inteligentes perante os mais tolos do que eles.

Releiam, neste contexto, a citação do Miguel Setas com que iniciei este post. Como podem ver, ela é absolutamente destituída de conteúdo, limitando-se a sinalizar a pertença do seu autor a uma élite de poderosos que comandam os destinos do mundo. O seu valor é nulo para a gestão de qualquer empresa: não contêm qualquer ideia válida que possa ajudar a orientar uma empresa pequena, média ou grande.

Porém, como há jornalistas que fazem constar que, depois da contratação da McKinsey, uma empresa fica munida de uma estratégia poderosa, como há gestores de fundos de investimento que acreditam nisso, e como há néscios que compram unidades desses fundos, até pode acontecer que o dinheiro gasto com os consultores seja parcialmente compensado com um aumento das cotações das suas acções na bolsa.

Perceberam? Eu também não.

6.9.05

Lenita gentil

Relativamente à intervenção da Helena Matos no "Prós e Contras" de ontem, eu só tenho a dizer que a écharpe não lhe ficava muito bem.

Mas é preciso dar tempo ao tempo: a rapariga ainda está a aprender a vestir-se.

5.9.05

Apetece-me chorar

Esta semana interrompeu-se o campeonato para deixar jogar a selecção nacional.

É uma variante muito bonita do pontapé na bola, esta: os espectadores, em vez de se insultarem e agredirem mutuamente, dão-se as mãos, vibram em uníssono e cantam o hino nacional. Quando a selecção ganha, as senhoras choram como se estivessem a assistir à telenovela.

Enfim, futebol para meninas - o único que o sexo fraco de facto consegue apreciar. É vê-las entusiasmarem-se com as pernas do Figo, irritarem-se com o árbitro por ele não deixar o Cristiano Ronaldo exibir o brinco e protestarem por "os outros brutos" aleijarem "os nossos" daquela maneira.

Numa coisa concordo com o mulherio, embora por razões distintas: o Vítor Baía ficaria melhor na baliza portuguesa do que aquele tipo com voz de galinha aflita, de cujo nome não quero recordar-me.

Acabado o vexame ritual infligido no sábado pela nossa selecção aos infelizes luxemburgueses, pergunta-me a minha Maria: "E agora, já somos Campeões do Mundo?"

3.9.05

Imaginem

Se se sentem deprimidos por as próximas eleições presidenciais irem, ao que tudo indica, ser disputadas entre Cavaco Silva e Mário Soares, imaginem por um momento que a contenda colocava antes frente a frente Manuela Ferreira Leite, Helena Roseta e Odete Santos.

Já imaginaram? Muito bem, agora já podem dar graças a Deus.